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UMA TRAJETÓRIA DE LO-DEBAR A JERUSALÉM


        Hoje o ETERNO me proporcionou um ensinamento valioso, que quero compartilhar com vocês: “conheça uma história por completo, não tire conclusões precipitadas a respeito de alguém, seja sábio e justo como um rei.”

           No decorrer do texto que iremos analisar hoje, entenderão o que quero dizer com tal afirmação. Pois bem, confesso que, lendo a história de um personagem bíblico bastante conhecido (pelo menos o ápice de sua história), me precipitei e julguei mal sua atitude e seu caráter. Me refiro a história de Mefibosete. Com nome tão peculiar, creio que a maioria dos leitores conheça a história do jovem que, foi honrado pelo rei Davi e teve a alegria de comer a mesa do rei, apesar de suas limitações.
           Para melhor entendimento, farei um breve relato da história, que começa antes mesmo do nascimento de Mefibosete. Havia uma amizade verdadeira entre o rei Davi e o pai de Mefibosete, Jônatas, a ponto de fazerem uma aliança diante de DEUS, onde se comprometeram jurando amizade perpétua, laço inquebrável entre as respectivas descendências. Algo assim tão marcante, logicamente foi lembrado, mesmo após a morte de Jônatas, amigo fiel, que por muitas vezes salvou a vida do rei Davi.
          Davi, em um dia de nostalgia, lembrou-se de seu saudoso e fiel amigo e perguntou se ainda havia alguém de sua família vivo, para que fosse tratado com bondade por amor a Jônatas. Provavelmente, ele lembrou o voto de amizade feito anos antes. Essa é a parte da história de Mefibosete mais conhecida onde, por amor a seu pai, ele foi lembrado e resgatado de uma cidade desolada e carregada de miséria: Lo-Debar. Tal cidade, fazia jus a seu significado: “ sem pasto”. Sem esperança, sem renovo, lugar de sofrimento, de miséria, de fome, sem provisão. Cidade tão desprovida de recursos que, diz a história, que era habitada somente por pessoas rejeitadas pela sociedade, por doentes, mendigos, por pessoas com deficiência... Esse era o atual quadro do jovem Mefibosete, aleijado dos dois pés, privado de todo o conforto que conheceu até cinco anos de idade.
           Conta à história, que Mefibosete era um menino fisicamente normal, neto do antigo rei Saul, filho do príncipe e naturalmente da linha de sucessão ao trono. Ele nasceu nesse contexto de regalias e eminência de possível reinado, até que, em um dia fatídico, onde recebeu a notícia de morte do pai e do avô, ele viu-se fugitivo e mediante o desespero da fuga, caiu e ficou permanentemente coxo, sendo levado a viver circunstâncias totalmente opostas a tudo o que conhecia até então. Passou de herdeiro do rei a um esquecido e rejeitado aleijado em uma cidade de miséria. Ele não convivia apenas com a miséria da cidade, mas também com os traumas do passado, com o medo, com a sensação de injustiça, com as lembranças de uma vida gloriosa que não voltaria mais. Em apenas um dia, tudo foi embora na vida daquela criança, tudo acabou: a esperança, a família, a saúde, a infância... Pelo menos, era isso o que o jovem Mefibosete pensava, mas, também em um dia, tudo mudou e ele foi lembrado, como o filho sobrevivente do melhor amigo do rei Davi.
              Note, que ninguém pleiteou a causa do jovem injustiçado,  nem ele mesmo lutou por seu direito. Possivelmente, ele até sabia, até já havia escutado muitos relatos da amizade entre seu pai e o rei Davi e poderia ter cogitado a ideia de ser lembrado pelo rei como filho do amigo fiel. Mas, ele não fez isso, afinal eram tantos traumas, tantas “prisões”, tantas limitações... que iam além de sua deficiência física; que o impediam de acreditar ser capaz de apresentar-se diante de um rei. A cidade de Lo-Debar havia “enterrado” o sangue real que corria nas veias daquele jovem, tanto que ele se considerava um cão morto. Essa foi à expressão que o próprio Mefibosete usou quando foi trazido na presença do rei. Ele se considerava tão indigno e em uma realidade tão deplorável que se intitulou um “cão morto”. Não havia mais vida, nem esperança para aquele jovem. Era assim que ele se enxergava, um mero animal morto.
             Mas tudo mudou naquele dia, ele foi lembrado pelo próprio rei e teve tudo restituído. Passou a ser tratado como filho, comendo à mesa do rei. Nunca mais precisou viver a miséria, a fome, o medo, o descaso, o esquecimento de Lo-Debar. Agora ele tinha esperança, morava em Jerusalém, cidade de paz. A mudança em sua vida foi tão evidente, que suas limitações físicas não o impediram de sonhar, de constituir uma família, de ter um filho, um herdeiro que daria continuidade a sua história. E outro detalhe muito relevante é o significado do nome do filho de Mefibosete. Pouco se fala a respeito desse filho, somente que era pequeno e chamava -se Mica, que significa  "semelhante a DEUS". Interessante lembrar que os pais tinham o costume de nomear seus filhos de acordo com o momento vivido, então,  podemos entender que Mefibosete viu na continuidade de sua descendência uma oportunidade de engrandecer o ETERNO.
             Muitos conhecem a história de Mefibosete até esse ponto, onde foi honrado pelo rei tendo todos os bens restituídos e seria realmente um desfecho glorioso para uma história que começou de maneira tão triste, mas, a história não acaba aqui... Foi exatamente, no desenrolar da vida de personagem tão espetacular que algo chamou muita minha atenção e trouxe-me lição que jamais esquecerei.
          Todo relato citado encontra-se no II livro de Samuel, no capítulo 4:4 e no capítulo 9, mas a história continua. Não sabemos com precisão quanto tempo passou-se e por quanto tempo esse estado de paz reinou na vida de Mefibosete, mas assim como, naturalmente as estações mudam, agora uma nova situação era vivida no reino. O rei Davi fugia de seu próprio filho Absalão que almejava tomar o reino. Nesse contexto de fuga e de guerra, a vida de Mefibosete também mudou drasticamente e no capítulo 16, foi passada uma informação de que ele havia abandonado o rei e também almejava lutar pelo reinado. Em um momento de impulso, o rei Davi tomou todos os bens de Mefibosete  e os deu  a seu servo Ziba, que aparentemente permaneceu fiel a rei.
            Confesso que nesse momento, meu censo de justiça traiu-me e julguei maliciosamente Mefibosete, acreditando nas palavras de Ziba. Conjecturei que, depois de tudo o que o rei Davi havia feito pelo jovem, ele era muito ingrato e arrogante, deixando o poder lhe subir a cabeça. Simplesmente tirei minhas conclusões precipitadas e dei um veredito sobre uma história contada apenas em uma versão. Não dei nem chance de defesa a Mefibosete. E quantas vezes também nos precipitamos a respeito de alguém???
            Continuei minha viagem pela história e me surpreendi com um final maravilhoso, de um jovem que realmente foi digno de honra. No capítulo 19 conta-nos a história que, o rei Davi venceu aquela batalha e retornou a seu reinado em Jerusalém e o encontro inevitável com Mefibosete aconteceu. Nesse momento pude perceber a sabedoria do rei. No versículo 24, Mefibosete, com toda hombridade e atitude honrosa vai ao encontro do rei, mesmo sabendo que possivelmente o rei estaria chateado com as notícias dadas a seu respeito. Mais do que suas palavras, sua atitude o precedeu. Ele visivelmente ansiava pelo retorno do rei e não havia cuidado de si mesmo desde a saída de seu benfeitor até seu retorno em paz. Apesar de ter continuado na cidade de paz, ele não se julgou digno de viver em paz enquanto o rei não estivesse na mesma condição. Mefibosete optou por se afligir, não cuidar de seus próprios pés, não se barbear, não lavar suas roupas... Porque sabia, que essa era a atual condição que o rei se encontrava e ele, não julgou-se digno de viver melhor que o rei. Na realidade, ficou claro que ele almejava acompanhar o rei Davi em sua fuga, mas foi enganado, deixado para trás  e caluniado por seu servo Ziba.
         O rei Davi foi tão sábio e prudente que, refletiu sobre as palavras maldosas de Ziba e analisando as atitudes observadas em Mefibosete, deu- lhe a chance de se explicar quando perguntou o porquê dele não ter ido com ele. Note que, aparentemente o rei já sabia o motivo, pelo menos o contado por Ziba e, como rei, ele não tinha a obrigação de dar ouvidos a um suposto traidor. Mas, ele foi sábio e não deixou suas presunções, nem a fúria falar por si.  Ele deu a chance de Mefibosete provar o valor que realmente tinha. O rei Davi foi ainda mais além e pode provar a si mesmo o valor da aliança de amizade feita com seu amigo Jônatas a tantos anos antes.
        Mefibosete excedeu todo limite de gratidão, fidelidade e devoção ao rei que o resgatou da vida miserável que vivia. Afinal, apesar do pouco convívio que teve com o pai, ele havia aprendido valores que forjaram seu caráter e nenhuma calúnia foi capaz de manchar sua história. O jovem havia aprendido em Lo-Debar a viver com muito pouco e quando foi confrontado pelo rei a ter que dividir todos os seus bens com o servo que o caluniou, preferiu deixar tudo para o servo infiel. Porque ele não se prendia a bens materiais, o maior prazer que tinha em sua vida era a presença do rei, a oportunidade de comer a sua mesa, de ser tratado como filho do rei. Ele era grato e valorizava cada segundo na presença do rei que o resgatou de “sua prisão”, que lhe deu esperança, um futuro, que o levou a habitar uma cidade de paz!
            Esse sim foi um desfecho digno para a história de um jovem que venceu seus limites, seus traumas, seus medos e honrou verdadeiramente a quem lhe deu a oportunidade de reviver, perpetuou com seu exemplo de gratidão uma amizade que ultrapassou os tempos!


JOSI😉

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